segunda-feira, 1 de abril de 2013

vento, vendaval, ventania

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces, estendendo-me os braços, e seguros de que seria bom que eu os ouvisse quando me dizem: "vem por aqui!". Eu olho-os com olhos lassos (há, nos olhos meus, ironias e cansaços), eu cruzo os braços, e nunca vou por ali... A minha glória é esta: criar desumanidades, não acompanhar ninguém - que eu vivo com o mesmo sem-vontade com que rasguei o ventre à minha mãe. Não, não vou por aí! Só vou por onde me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde, por que me repetis: "vem por aqui!"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, redemoinhar aos ventos feito farrapos, arrastar os pés sangrentos, a ir por aí... Se vim ao mundo, foi somente para desflorar florestas virgens, e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço, não vale nada... [. . .] Ah, que ninguém me dê piedosas intenções, que ninguém me peça definições! Que ninguém me diga: "vem por aqui"! A minha vida é um vendaval que se soltou, é uma onda que se alevantou, é um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, não sei para onde vou, só sei que não vou por aí! [José Régio]

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fé na vida.


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