sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Lua Vermelha

Deitado sobre a colcha da cama começo a admirar as estrelas que surgem no teto como fogos de artifício na escuridão da noite. Ardo em febre. Contorço-me feito louco em camisa de força, sinto dores em todas as articulações e quase me sufoco no bafo causado pelo calor do sol que bate na janela entreaberta do quarto. Tenho sede. Isso tem que acabar. Numa das tentativas, firmo meu tronco, respiro fundo e reparo minhas costas coladas no tecido cinzento. Meu suor é grande, meu corpo nu exala minha dor, meu desejo e minha doença. Sinto também minhas nádegas achatadas pelo meu próprio peso e minhas mãos calejadas que repousam sobre a coberta como belas moças sob o sol do verão. Meu corpo continua tenso, inquieto, como se a loucura lambesse minha orelha. Nada sobre mim, nada sobre a cama, ninguém (nem sinal). Reviro meus olhos, os fecho e me deparo com minha respiração ofegante, meu batimento acelerado, minha cabeça a mil. Meu cheiro é forte, grave como minha voz que não sai. Minhas cordas vocais parecem ter desaparecido e o incômodo na garganta me lembra da rouquidão de ontem. Percebo meu delírio me dominando, desespero. Não me mexo. Quem sabe acaba. Agora, lentamente: um, dois, três... Não dá. Chego ao quatro e não mudo. Nada acontece e meu corpo continua a transpirar. Sinto como se fosse derreter tal qual manteiga no calor da panela de ferro. Vontade de me rasgar, de me virar pelo avesso, implodir, sumir. Aos poucos e depressa. Como o meu prazer - e o meu fim.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Precisa estar aqui

Eu sei muito pouco, mas tenho a meu favor tudo o que não sei.

(Clarice Lispector)

domingo, 17 de janeiro de 2010

Lovefool


Sabe, tem um trecho do 'The dreamers' que realmente faz muito sentido pra mim e combina perfeitamente com a minha forma de pensar. É um diálogo não muito longo em que os três estão nus na banheira cheia de espuma e Matthew coloca em dúvida a forma como os "gêmeos" exprimem o amor.

Começa assim:

[Matthew] I love you, Isabelle.

[Isabelle] I love you too, Matthew.

[Matthew] Yeah, but I really love you.

[Isabelle] I really, really love you too. We both do. Don't we, Theo?

[Theo] Oh, yeah.

[Matthew] That's not what I wanted you to say.

[Theo] What do you want us to say?

[Matthew] I wanted you to say you love me.

[Theo] We just did, Matthew.

[Matthew] No, you said you love me too. I don't want you to say you love me too. I want you to say that you... love me.

[Theo] Oh, we love you, we love you, we love you.

[Matthew] That's not right, either. You have to say it first.

[Isabelle] My God, Matthew. You already said it first.

[Matthew] Why is that? Why am I always the first to say it?

[Isabelle] Oh, poor Matthew. Oh! We do love you very much.

[Matthew] I don't want to be loved very much. I want to be loved.

[Isabelle] You know what someone once said? "There's no such thing as love. There are only proofs of love."

Concordo tanto com eles, mas tanto, que nunca mais esqueci esse trecho do filme. Dizer também te amo, definitivamente, não acrescenta nada, não diz nada. Parece que a pessoa fala somente para confortar a outra.

Não que a pessoa não ame... mas é que o também te amo parece tão comprado, mas tão comprado, que às vezes é melhor se não for dito, né? Sei lá. Fato é que um também te amo nunca teve, nem nunca terá o mesmo efeito de um te amo.

Também gosto quando o Matthew diz: Não quero ser muito amado, só quero ser amado. O amor não precisa ser muito, não precisa ser louco ou, como diria Chico Buarque de Hollanda, o amor não tem pressa: ele pode esperar. O amor tem paciência, se adapta, demora, dói. O amor aguenta.

Pra completar, Isabelle fecha com chave de ouro: Não há tal coisa como o amor. Há apenas provas de amor. Bingo! O amor não se explica. O amor não se fala. O amor não se exibe. O amor não se encontra... Ele simplesmente acontece.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Meu herói

Aí que outro dia, numa dessas tardes abafadas e cinzentas, resolvi ir ao cinema assistir Hachiko: A Dog's Story, traduzido para o português como Sempre ao seu lado. Agora me diz, pra quê, né.

O filme, baseado em uma história real, retrata a vida de Hachi, um cachorro da raça Akita, que é encontrado por um professor universitário (Richard Gere) em uma estação de trem. Eles desenvolvem uma grande amizade e rapidamente Hachi se torna a alegria do professor e da família. O cachorro, fiel e companheiro como todo Akita, chega ao ponto de esperar todos os dias seu dono chegar do trabalho na estação de trem da cidade.

Tudo segue muito bonito até o dia em que o professor morre ao sofrer um ataque cardíaco na universidade. E o cachorro fica lá esperando que o professor volte... Bom, acho que nem preciso dizer a tristeza que é o restante do filme. É uma aula sobre lealdade.

Pra piorar, é um Akita. E, pra quem não sabe, o único cachorro que tive na vida foi um Akita branco, de focinho rosa, que se chamava Tommy (já tinha falado dele aqui). Por isso, já conhecia a história de Hachi e seu monumento no Japão.

Tommy era meu amigo, meu companheiro e o mais bonito dos Akitas que já conheci. Era querido por toda a família e conhecido por todos os vizinhos. Era lindo. Foi com ele que conversei inúmeras vezes quando pequeno e foi a ele que dei prazer fazendo carícias na barriga e no pescoço. Foi ele que me salvou de um assalto.

Tinha 12 anos e estava sozinho em casa quando os assaltantes quebraram a porta. Ele latiu tanto, mas tanto, que me escondi a tempo e me salvei. Foi a mim também que ele procurou pela casa quando já não estava bem, e foi no meu colo que ele morreu quando já não aguentava mais.

Assim, o filme - que já é triste por si só, com todo meu histórico virou um dos dramas mais tristes que já vi e um dos filmes que mais me fez chorar na vida...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Desilusões

Engraçado como tem dias que certas coisas não fazem qualquer sentido. Mesmo aquelas que sempre julguei como corretas e justas, a partir de algum raciocínio meu, entram na listinha das dúvidas e incertezas. There's a dream that i see, i pray it can be, por exemplo, que muitas vezes levei como lema, hoje não faz o menor sentido.

Talvez por eu ter dormido mal esta noite, talvez por estar um dia cinzento (daqueles que eu odeio) ou talvez por andar meio decepcionado comigo mesmo, ou com todos, sei lá. Não tô otimista. Tô tendo sérias dúvidas com relação a esse 'can be'.

Tenho me sentido diferente. Até podem argumentar: ora bolas, todos somos diferentes. E é verdade: somos diferentes no que se refere a aparência, gostos, qualidades, defeitos, traumas, experiências, etc. Somos sim.

Me refiro aos sentimentos, de uma forma geral. Não sei se me explico bem. Fato é que hoje olho pros lados e não vejo pessoas semelhantes a mim. Mas assim, nem um pouco. Não sei o por quê. Tô achando todos uns aliens.

Vejo um monte de gente valorizando coisas erradas, pessoas erradas e se deixando levar pela multidão, pela maioria, por aquilo que se tem como moda, ou politicamente correto. Vejo um monte de gente tentando parecer o que não é, vivendo uma vida falsa, de mentiras. Acho triste.

Sabe, sei lá. De repente estou errado. De repente sou igual a todos e não me enxergo, né. É possível que eu esteja fazendo tudo errado também, tentando ser justo, tentando ser íntegro, verdadeiro, o escambau. Talvez esteja perdendo tempo por aqui. Eu não pertenço a esse lugar. Talvez eu esteja perdendo tempo escrevendo essas coisas. Tá difícil de acreditar.

Tá difícil de acreditar. Só não quero perder de vez a esperança.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Balanço Semestral

Meu ano é sempre duplo, não adianta. Passa um semestre, puft, foi-se um ano. Com direito a início, meio e fim, messmo. Pois bem, agora que já começou o dito dois-mil-e-dez-sem-stress, finalmente posso dizer que sim, o segundo semestre de dois mil e nove foi o melhor dos últimos anos.

Por inúmeros motivos. Não só pelos lugares que conheci, não só pelas coisas que vivi, não só por ter atingido meus objetivos acadêmicos, mas também por todas as vezes que fiquei sem palavras, por todas as vezes que meus olhos falaram por mim e também por todas as vezes em que me senti querido por pessoas queridas e sortudo por ter experimentado tantas sensações que nunca imaginei sentir.

Veja bem, até promoção de rádio eu ganhei. Sabe o que é tu tá meio triste no teu canto, enviar despretenciosamente uma frase - pelo celular - e ganhar um prêmio de, sei lá, 1500 reais numa tarde chuvosa de Setembro? Pois até isso eu senti. Coração aos pulos. Será que eu mereço tanto?

Pra completar teve a Ingrid e o Rafa que fizeram a diferença no meu ano e me fizeram entender um pouco mais sobre a vida, sobre amizade e sobre o amor. Ah, o amor... E foi assim que ganharam meus sentimentos, meu carinho, minha adoração e um lugar aqui na listinha dos meus mais queridos.

Coincidência ou não, foram os dois - e só os dois - que viram lágrimas minhas nesse tempo todo. Talvez isso diga tudo.

Uma pena que não tenha virado o ano com nenhum deles, pra dar meu abraço mais forte e dizer o quanto cada um foi importante pra que meu ano tenha sido tão melhor. Uma pena.

E por aqui eu fico. No meu emaranhado de lágrimas, sentimentos e sonhos. Que em 2010 eu continue com a mesma sorte de encontrar flores tão lindas pelo meu caminho ;)