terça-feira, 30 de abril de 2013

Há dias penso nisso

Tem um programa que escuto no rádio do carro toda tarde, durante uns 20 minutos, enquanto vou pro trabalho. Se chama 'cantos do sul da terra'. Gosto tanto desse nome que nem sei dizer. Talvez o escute só pelo nome, mas talvez o ouça também por causa de seu enfoque regionalista, que me apresenta umas músicas um pouco diferentes daquelas que estou acostumado a ouvir. São milongas e uns boleros da república platina que me comovem um bocado quando retratam o bucolismo e, também, isso que é viver no pampa, no frio e nessas tradições todas que nos cercam.

Pois bem. Nesse mesmo programa, outro dia, os integrantes da mesa estavam comemorando uma data especial. Não lembro bem o que era, mas acho que se relacionava com a comemoração do aniversário de alguém que se foi. E foi aí que o locutor frisou que o verbo comemorar também pode ser interpretado como co-memorar. No sentido de memorar juntos. No sentido lembrar com alguém algo que já se passou... Achei lindo!


sábado, 27 de abril de 2013

Vazio e farto

Mais do que a falta de descanso, mais do que a falta de uma vida encaminhada, mais do que a falta de desejos realizados, mais do que a falta de um tanto de coisa que poderia citar, o que tem pegado por aqui é a falta do toque. E aqui, veja bem, não me refiro a sexo, por mais que, não minto, falte também. O toque que me refiro aqui são esses pequenos gestos que preenchem a gente de alguma forma. São esses abraços que nos confortam, esses colos que recebem as nossas cabeças cansadas, esses ombros que recebem os nossos ouvidos exaustos de tanto barulho. Diria aqui que esse toque que me refiro, e que me faz falta, são esses poços de tranquilidade que, às vezes, aparecem no meio da multidão e das sensações pra nos dar a esperança de que a vida pode ser, sim, saboreada como ela merece.

É fato também que esse toque geralmente vem acompanhado dessas palavras que transmitem, mais do que confiança, a segurança de que tudo vai ficar bem. E aí concluo que é desse aveludado que se cria a partir da união do toque com a palavra que sinto falta. Pra dormir bem, pra tranquilizar a cabeça, pra acalmar o coração. Pra acreditar que, de fato, a primavera está quase aí.

"Gostaria de transmitir a leveza; aquilo que é sentir uma sensação sem peso".

Você já assistiu Pina?


segunda-feira, 15 de abril de 2013

Pensei até em me mudar

Tem épocas que a vida ganha uma velocidade sem sentido. Não que tenha que ser tudo aos poucos, mas acredito que, às vezes, é preciso um pouco de sossego. Um dia de folga, uma tarde de sol, uma fuga pro litoral, pra serra ou pra dentro de si. Mais do que preciso, ou necessário, diria que é vital. São nesses momentos de afastamento que, em geral, conseguimos acertar os ponteiros, ponderar o passado e o presente, superar o que dói ou aquilo que fez mal, não é? São nesses momentos que a gente se dá conta de toda beleza que há e de toda a sorte que tem. E aí vem de dentro aquele pequeno prazerzinho pessoal, aquele que nos faz pensar gracias a la vida, que me ha dado tanto...

De qualquer forma, enquanto não consigo esse tempo pra mim, pra minha cabeça, pro meu corpo ou pro meu coração, vou tocando por aqui. Preenchendo meus dias e minhas noites. Com aulas, estudos, trabalhos e amigos, tenho conseguido a proeza de não sentir a vida passar. Mais do que isso, tenho me espantado ao perceber como tenho conseguido fazer tudo o que quero, apesar dessas coisas deixarem como lembrança uns cabelos no chão, uns roxos sob meus olhos e o mesmo corpo magro de sempre. Além disso, o que mais me impressiona é que, apesar de tanto viver, quem predomina nessa avenida entre a razão e o coração ainda é meu grande amor.

E são nos instantes em que há algo indo e vindo nessa via de mão dupla que chamo, invariavelmente sem sucesso: Amor...


segunda-feira, 1 de abril de 2013

vento, vendaval, ventania

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces, estendendo-me os braços, e seguros de que seria bom que eu os ouvisse quando me dizem: "vem por aqui!". Eu olho-os com olhos lassos (há, nos olhos meus, ironias e cansaços), eu cruzo os braços, e nunca vou por ali... A minha glória é esta: criar desumanidades, não acompanhar ninguém - que eu vivo com o mesmo sem-vontade com que rasguei o ventre à minha mãe. Não, não vou por aí! Só vou por onde me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde, por que me repetis: "vem por aqui!"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, redemoinhar aos ventos feito farrapos, arrastar os pés sangrentos, a ir por aí... Se vim ao mundo, foi somente para desflorar florestas virgens, e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço, não vale nada... [. . .] Ah, que ninguém me dê piedosas intenções, que ninguém me peça definições! Que ninguém me diga: "vem por aqui"! A minha vida é um vendaval que se soltou, é uma onda que se alevantou, é um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, não sei para onde vou, só sei que não vou por aí! [José Régio]

+

fé na vida.