"Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas, vivem pros seus maridos: orgulho e raça de Atenas. Quando amadas se perfumam, se banham com leite, se arrumam - suas melenas. Quando fustigadas não choram, se ajoelham, pedem imploram mais duras penas, cadenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas, sofrem pros seus maridos: poder e força de Atenas. Quando eles embarcam soldados, elas tecem longos bordados - mil quarentenas. E quando eles voltam, sedentos, querem arrancar, violentos, carícias plenas, obscenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas, despem-se pros maridos: bravos guerreiros de Atenas. Quando eles se entopem de vinho costumam buscar um carinho de outras falenas. Mas no fim da noite, aos pedaços, quase sempre voltam pros braços de suas pequenas - Helenas.
Mirem-se no exemplo, daquelas mulheres de Atenas, geram pros seus maridos: os novos filhos de Atenas. Elas não têm gosto ou vontade, nem defeito, nem qualidade - têm medo apenas. Não tem sonhos, só tem presságios, o seu homem, mares, naufrágios, lindas sirenas, morenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas, temem por seus maridos: heróis e amantes de Atenas. As jovens viúvas marcadas, e as gestantes abandonadas, não fazem cenas. Vestem-se de negro, se encolhem, se conformam e se recolhem às suas novenas - serenas.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas, secam por seus maridos: orgulho e raça de Atenas." (CHICO BUARQUE)
Chico me mata duma forma...
#pra_não_reclamar_da_vida
quarta-feira, 16 de junho de 2010
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