Uma senhora. Que tem marcas da idade, que já sofreu e que já viu de tudo. Uma idosa que viu as crianças crescerem, a tecnologia chegar e as relações se transformarem. Uma anciã que tá cansada e que, apesar das marcas, resiste bravamente através das plásticas. É assim que vejo essa casa onde morei durante toda minha vida.
Por ser datada do inacreditável ano de 1897, não imagino tudo que possa ter acontecido por essas bandas. Não imagino o que essa fachada possa ter assistido, nem o tudo que possa ter mudado nesse tempo todo. Minha imaginação se perde assim como minha memória que não me deixa lembrar de quase nada anterior aos meus sete anos de idade. Verdade é que foi aqui que passei meus melhores e piores momentos.
Aqui eu vim quando nasci. Aqui eu aprendi a falar, a caminhar, a escrever, a ler. Aqui eu sangrei, chorei, fiquei doente e vomitei. Aqui eu joguei bola, andei de bicicleta, brinquei com meus carrinhos, joguei sinuca. Aqui eu vi inundar, vi assaltos e brigas. Aqui eu estudei muuuito, descobri o prazer, o sexo. Aqui convidei pra vim jantar meus melhores amigos. Aqui eu naveguei na internet, me escondi embaixo da cama, dentro do armário, atrás das portas e das cortinas. Aqui eu voltei saudoso cada vez que viajei. Aqui vi meu cachorro me procurar antes de morrer. Aqui eu estacionei meu primeiro carro, vi meu primeiro dente cair, escrevi meus textos. Aqui eu cantei, dancei, sorri sozinho. Aqui eu vivi e cresci vendo lesmas no pátio, largartixas nas paredes, pássaros nas árvores e borboletas no ar. Aqui eu fui triste e aqui eu fui feliz.
E daqui vou sair dentro de um ou dois dias. Vou morar em um apartamento novo como um bebê. Um lugar sem histórias, sem choro, sem sangue. Um lugar vazio de sentimentos e memórias e que vai se mostrar como é com o tempo.
Branca como uma folha de papel, de janelas azuis como grandes olhos e encamentos externos vermelhos como longas veias. Sentirei saudades.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
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