É exatamente da minha natureza ser mais ouvinte do que falante. Não sei dizer desde quando sou assim, ou desde quando me percebi assim, mas talvez tenha sido desde sempre mesmo. Ser o filho menor implica em muitas coisas e, talvez, entre elas, esteja isto de ouvir os outros todos enquanto você mal consegue formar frases lógicas.
Não vou dizer que é ruim ser ouvinte, bem pelo contrário. Ouvir, pra mim, implica em aprender, observar, perceber, sentir. Ouvir me dá experiências que não vivi. Ouvir aguça minha imaginação, me desperta os sentidos, me arrepia os pelos.
Gosto de ouvir justamente por isso. Me faz sentir vivo. Me faz sentir ponte entre aquilo que recebo e aquilo que vou dizer em algum tempo. Me faz sentir lúcido. Sobretudo quando observo as histórias de fora e, com um pouco de ponderação, digo um pouco daquilo que penso, acho e sinto.
É bacana perceber o quanto aqueles próximos a mim reconhecem minha capacidade de ser ouvinte. Me faz sentir querido, como um bom amigo, um companheiro. E isso tudo é ótimo, de verdade. É bom perceber o quanto a gente faz bem às pessoas com um par de ouvidos e uma meia dúzia de palavras.
O que me parece, de vez em quando, no entanto, é que meus caros me procuram basicamente quando estão em situações difíceis. Talvez esteja sendo um pouco exagerado, mas talvez não exatamente. Não quero ser injusto, mas é fato que, às vezes, me sinto um repositório de histórias mal sucedidas, carências, fraquezas e desilusões. Como se aqueles que gosto sumissem exatamente quando estão bem, e me procurassem justamente quando as coisas desandam. E é aí que me sinto sujeito dos outros.
Talvez hoje seja só um dia em que o carente seja eu (também tenho direito, né?). Mas talvez seja só um desejo de ouvir e viver histórias felizes. Romances verdadeiros, pessoas satisfeitas, casas e apartamentos novos, sábios projetos, dias de céu azul, crianças, animais, amor, festa, devoção.
domingo, 23 de março de 2014
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